Nota:

Oi pessoa, obrigada pelo seu tempo, sua leitura, sua apreciação ou não. Se puder deixe sua opinião, ela será sempre lida. E se por algum acaso for copiar alguma parte de alguma coisa escrita aqui coloque os créditos. É sempre bom estar consciente da fonte das coisas.


Fiquem à vontade conosco e com nossa eterna mania de "eus-bem-líricos".


Enfim, esperamos que gostem.


A.L. - D.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Outra vez Tati


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Nenhum pensamento meu tem o poder de te machucar, nenhum mundo para onde eu vá tem o poder de te causar desespero. E eu preciso te sentir na minha ratoeira, eu preciso atirar nas suas asas que sobrevoam meu sossego. Você sempre me deixa, mesmo ficando colado comigo. Eu preciso sentir tormento alheio para desocupar o lugar da atormentada. Eu preciso ter a certeza que no seu ponto perdido no espaço ainda não mora outro rosto. O amor tem uma cara feia pra mim, de tormenta, de escuridão, de labirinto. E eu não consigo acreditar no seu jeito feliz de me amar, no seu jeito feliz de achar que tudo bem entregar um peito a outro ser que voltou ao mundo porque ainda não tinha aprendido a viver.

Quando a gente ama, a gente entrega a alma para alguém que não sabe direito nem o que fazer com a própria. Por isso eu agora estava ali, coberta do cheiro alheio, para ver se eu me defumava de outras intenções, o suficiente para fechar os poros das nossas portas. Eu queria morrer ali, ao lado do outro homem. Ainda que nenhuma célula do meu corpo permitisse a proximidade de outro batimento cardíaco, outro bafo e outro estalar de dedos do pé. Eu queria congelar aquele momento sem luz, aquele momento em que, aos poucos, eu sentia meu corpo e todo o resto feito de espírito voltar ao meu centro. A nossa morte que me retornava à minha vida. Eu queria que a manhã chegasse aos poucos, matando você sem que eu acordasse e, finalmente, no café da manhã, eu tomaria um suco de laranjas com a minha existência livre da sua. Eu queria não acordar e lembrar que ainda preciso conquistar você, porque você brinca de ser meu, mas mora do outro lado mundo. E eu não sou atleta e nem forte para correr tanto e tão longe, por isso gostaria de destruir tudo o que é seu do meu mapa.

Eu tenho muita preguiça do seu olhar de “já sei o que é sofrer, agora posso viver sem medo porque descobri que eu não morro”. Eu já sofri por aí, mas ainda morro muito, todo dia eu velo meus restos e conto uma piada para ninguém perceber. E eu queria relaxar da terra em cima da minha cabeça só para variar um pouco. Eu estava deitada numa cama imensa que poderia ser minha, e o outro dizia “tudo aqui pode ser só seu e pra sempre”. Aos poucos fui lavando meu cérebro de você, e torcendo para os restos da limpeza caírem no meu coração, acabando de vez com o serviço. Fui trabalhando meu corpo para esvaziar todas as suas pistas da minha história.

A maior felicidade para mim é sentir uma coceguinha de proteção no centro do meu estômago, uma borboletinha da alegria, uma paz imensa que emana do meu centro enquentando até os dedos do pé e os fios de cabelo. Essa alegria foi nascendo, igual a quando eu sabia amar apenas como filha, porque ele me deixou ficar nua, carente e imaculada, como uma criança. A escuridão foi me invadindo e calando neurônio por neurônio, grito por grito da minha angústia. Eu já estava me acostumando com a vida assim, a vida quente e confortável do chão firme e certo. O quente do amor conquistado e sólido e não da paixão quebrada em milhões de pedaços indecifráveis que eram jogados por um desconhecido, como num jogo de dardos, no meu coração estampado numa parede descascada.

Mas eu sonhei que você me descobria, me via deitada ali com a pele tão arrepiada que parecia uma galinha depenada, e eu te dizia: eu não deixei ele encostar em mim, eu sou tão sua, que merda, eu sou tão sua. E você, sem alterar a expressão eterna do seu orgulho inabalável, apenas me olhava com pena e me dizia que tudo bem. Mas não está tudo bem, sabe? Eu preciso ver sofrimento no meu líder para saber que sigo um apelo humano. Eu cansei de alisar sua escultura de pedra. Eu cansei de ser perdoada, compreendida e aceita. Eu cansei do mundo evoluído, porque eu sou bicho e esse mundo evoluído me humilha demais. Alguém aí pode admitir que essa merda de vida dá um medo filho da puta, e que ficar longe de tudo dói, e que ficar dentro de tudo dói, e que estar aqui, agora, dói pra cacete?

Alguém aí pode admitir por um segundo a inveja, o cansaço, o ciúme, a dor, a porra toda que essa química causa no nosso cérebro quando se espalha sem pedir permissão e joga essa doença toda pra cima da gente, a gente que estava calmamente vivendo nossa vidinha idiota? Alguém aí pode deixar de segurar na muleta social do divertimento, jogar copos longe, cigarros longe, bocas alheias, fugazes e desconhecidas longe, roupas longe, colares e pulseiras longe, poses e armações de sutiãs longe,…? Alguém pode me dar um murro na boca e me prender ao pé da cama, por favor?

Tati Bernadi.

domingo, 22 de maio de 2011

Dias Chuvosos.


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A chuva não para de cair lá fora. Oito dias. Oito dias que eu relembro você e me dá vontade de estar lá fora também, como antes. Ouvir sua voz novamente, só para saber que nada pode mudar tanto, para ter certeza do que fazer, do que escolher, de ver as coisas como via antes. A chuva deve estar em mim, caindo de mim que perdida espero algo que nem ao menos conheço, mas sei, sei que neste inverno espero ver.

Terça de carnaval, 2011.
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sábado, 21 de maio de 2011

Um copo de água.

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Tati Bernadi para quem não cansa de se identificar com ela.


Eu mastigava com culpa cinco daquelas bolinhas de amendoim. Não era culpa, era ansiedade. Não, era tédio. Minhas amigas conversavam longamente sobre algo que não me interessava nem por um segundo. As chatices do marido, as chatices do trabalho, as chatices do trânsito. Minha vida não é chata. Desde muito novinha decidi que minha vida não seria chata. Eu inventaria um trabalho, uma casa, um dia, um modo, um jeito. E inventei. As festas na Carol sempre tinham comidas incríveis mas, naquele dia, eram só bebidas. Eu não bebo. Quer dizer, agora, de vez em quando, comecei a beber só porque entendi quando me falavam que sem álcool é tudo muito pior. Então passei a beber pouco. Uma taça de vinho? Mas naquele dia eu não podia beber porque não tinha comido e também porque não estava a fim. Eu estava a fim de ir embora. Voltar pra minha vida que não era chata mas ficava chata quando percebia que eu tinha uma vida dentre todas aquelas vidas que se faziam perceber. Olhei pra porta. Ela abriu e você chegou. Eu não te via há 3 meses e alguns dias. Foi então que o narrador do meu cérebro pigarreou e mudou o tom. Eu me narro tudo desde que me tenho por cérebro. Como se o tempo todo eu me contasse e contasse o mundo. Para ver se eu existo e se o mundo existe. Para ver se eu me suporto e se suporto o mundo e se o mundo me suporta. É insuportável, mas o tempo todo minha cabeça narra tudo. Minuciosamente, detalhadamente, dolorosamente. O tempo todo eu cavoco o segundo, o pó, a pele, o que se diz, o que se parece. Tentando narrar o mais profundo do profundo do que eu poderia narrar. Só pra responder o mais profundo do profundo do que eu poderia perguntar. Então o narrador começou dizendo assim "e então ele entrou por aquela porta". Você entrou por aquela porta. Eu apertei o braço da Fernanda: "é ele! Ai, meu Deus, é ele". Quem, Tati? Ele. Mas qual dos "eles"? Você tem tantos "eles", Tati. O último. Você era o último homem que eu tinha amado e, portanto, o "ele" da vez. Com seu cabelo alto, largo, rococó. Eu amo seu cabelo. Amo os cachos mais brancos que parecem ornamentos rococós para suas orelhas. Os puxa-sacos te abraçam. Eu percebo quem gosta de você e quem só te abraça porque um dia pode precisar de emprego. Alguns te abraçam gostando de você. E então eu fico feliz, porque eu gosto que gostem de você. Porque você é o tio da Lia, a bebezinha que pensa muito antes de rir pra qualquer bobagem. Você é o cara que, quando foi embora, me deixou sentindo uma dor bem enorme, mas eu gosto de você, você não fez por mal. Seu mal nunca foi por mal. Então, eu gosto que gostem de você. E o narrador me narra seus tênis sempre tão publicitários. Seus pés gordinhos e pequenos e tão perfeitos pra carinhos. E narra sua roupa de chefe descolado. E narra o segundo em que você me percebe na festa e cochicha no ouvido do seu amigo alto. E narra todas as infinitas vezes em que você passou por trás de mim, esperando que eu me virasse e concordasse com seu "oi" cordial. Preferindo que eu não me virasse, assim você podia não sentir essas coisas complicadas todas que sentimos juntos. Então, cansada de te narrar, chamei firme seu nome, com um sorriso maduro. Mordendo a língua que tremia batendo no céu da boca. Minha língua, quando te vê, quer logo te dizer coisas lindas e assustadoras. Então é uma luta prendê-la no céu, deixando na terra apenas meu cordial "oi" que você queria sem querer. Então fomos pegar água. Brindamos com a água. Você com sua mania de conversar quase dentro da minha cara. Eu vesga de te ver tão perto. Seu charme míope e inseguro. O menino inseguro que conversa colado na minha retina. Que insegurança é essa? Eu não te pergunto nada, apenas desejo tanto você que sorrio como se não me importasse com sua existência. Mas você resolve se explicar mesmo assim. Porque "seus olhos estão sempre me perguntando algo", você diz. E você começa sua loucura que me faz gostar ainda mais de você. Empurra a palma contra o peito e diz "eu gosto assim, Tati, fechado, protegido, eu gosto". Então você olha para o meu copo d'água e diz: "eu sou só um copo d'água, mas você ficava me olhando e pensando nas bolhas e nos gelos e nos canudinhos e na transparência e se a água era isso ou aquilo. Água é só água, por que você complica a água, Tati?". Então apagaram a luz e eu quis me esconder dentro do seu paletozinho de publicitário descolado e ouvir suas batidas descompassadas e embaladas pelo seu cheiro de alma boa. Mas você pegou na minha mão e continuou dizendo que uma mão, muitas vezes, é apenas uma mão. Mas que eu insistia em enxergar os buracos entre os dedos, os anéis que separavam os dedos, a dor da separação dos dedos, a gota da bebida gelada entre os dedos. E que você não poderia suportar isso. A maneira como eu te olhava. Vendo mais, inventando mais, complicando mais. E eu quis te dizer que tudo bem, eu seria uma menina simples. Eu mataria meu narrador, minhas possibilidades, meus mundos, minhas invenções. Só de ver seus cachos mais grisalhos e rococós ornando seus medos e superficialidades eu desejei não ser mais eu pra ser qualquer coisa que pudesse ser sua. Mas enchi meu peito surrado e murcho de coragem e te disse que, infelizmente, onde você era apenas um copo d' água eu era a tempestade.

Tati Bernadi.

domingo, 8 de maio de 2011

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Ando meio cansada de pessoas de mentira, cansada de pessoas que prometem e não cumprem, de pessoas que vão embora sem se despedir. De pessoas que vão embora. Gostaria que elas entendessem que quando deixam alguém, este sofre e costuma ser um sofrer silencioso como um doença que se aloja no corpo, que vive dele para apenas se manifestar depois de anos. Dor. Contudo, elas continuam a ir e você que se vire, que se acostume, que supere. Mas, qual o motivo de algumas coisas não serem esquecidas, apagadas; até que ponto o insuperável existe?
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Desabafo.

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Que Deus me perdõe pelos meus pecados, pelas minhas falhas, por meus orgulhos, pelas minhas dívidas. Que Ele se compadeça de mim, que sou ser tão mínimo, tão insignificante e por tantas vezes tão vazio de boas coisas, de bons sentimentos. Que esse Ser que é tão capaz de tudo possa deixar passar minha falta de tudo, minha falta de mim. Chego até a esperar que Ele me cuide e proteja, que me desculpe e que olhe por mim, apesar dos pesares, mas que principalmente não me deixe sozinha e que não tome em conta se por ventura eu vier a tomar alguma atitude fraca. 

Porque no fundo, bem no fundo eu quero ser, eu preciso ser e sigo acenando a Deus que não me deixe, que Ele, pelo menos, esteja sempre.
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sexta-feira, 6 de maio de 2011

Certoincerto


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De que forma se conformar com o pouco, com o que é morno, com o que é indecentemente vazio? Para evitar esse vazio procurei refletir em alguém o que o outros diziam ser, dei importância ao inexistente até o momento em que percebi que nada disso é o bastante para mim. Nenhuma dessas aparências, nenhum desses pré-conceitos, nenhuma dessas coisas que a sociedade impõe aos seus. Nada disso me faz bem, me apaixona, me motiva. 

Ando chegando a conclusões ilusórias, deixando-me levar para longe de mim e pedindo coisas típicas de pessoas fracas. Contudo, não é isso. Não sou eu. Ando acenando para Deus me dar a força de que preciso. Ando buscando em palavras ser quem eu devo. Ando querendo ter ações que fogem de mim.

Estou em falta de ser eu, eu falta com as pessoas, em falta comigo mesma. E essa apatia tem que ir embora, tem que me deixar. O fato é que me desanimo das pessoas reais; em ilusões minhas as paixões brotam dos defeitos, do implícito, mas ,na verdade, nada é assim. Não tenho encontrado em quem confiar meus sentimentos, meus pensamentos, minhas palavras. Embora saiba que segredos só os são quando na cabeça de uma só pessoa, no fundo já havia me convencido a encontrar, a confiar, a ceder. 

Todavia, nada disso basta. As pessoas fazem jogos e não te comunicam de que você é peça principal, de que você faz parte. Eles jogam todo o tempo e o esperado é que você e encaixe, que se importe. Sou o incomum disso? Seria só eu? Tenho andado como cego em tiroteio, tentando não acertar, nem ser acertada. Mas, não basta. O que resta é estar dividido entre fazer os próprios jogos, impor as próprias regras e uma vida de máscaras, ser mentira ou ser sincero e continuar como cego em tiroteio, mas com a certeza de que você, ao final, foi bom, foi certo, foi não fingiu ser. Resta saber o menos degradante.

06.05.11

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